VERÃO QUENTE
A memória tem destas coisas.
Lembro-me também das operações stop do MFA. Mal o carro parava começava a gritar “O Povo está com o MFA!”.
Lembro-me que eles riam e faziam o “V” com os dedos. Numa mesma viagem
chegávamos a parar duas e três vezes. Eram uma festa!...
Uma vez um militar do MFA assinou no vidro do carro para que os seus
camaradas soubessem que este já tinha sido revistado. Fiquei lixado... não
íamos parar mais nessa viagem!
Mais tarde, depois do sonho lindo acabar, numa operação stop de
rotina, comecei a gritar que o Povo está com o MFA. Só mais crescidito percebi
a aflição do meu pai a mandar-me calar e o ar carrancudo da GNR!
Lembro-me que de cada vez
que arrancávamos de um sítio para outro, ouvíamos na rádio a notícia de um
atentado bombista, ou de qualquer outro acto de violência, no sítio de onde
saíamos.
Estas memórias fizeram pesquisar o que existem na “net” sobre este Verão.
Já encontrei algumas coisas...
Mas espero encontrar mais. Mas isso fica para quando houver mais tempo...
Cronologia de acções terrorista
26/05/75 - Violência
anticomunista. Ataque a sede do MDP em Bragança
03/06/75 - Atentados bombistas
da direita, em Lisboa.
19/06/75 - Rebenta
bomba junto da Igreja da Graça em Lisboa.
13/07/75 - Violência
anticomunista. Começa a escalada de assalto a
sedes de partidos de esquerda, com a destruição das sedes PCP e da FSP em Rio
Maior.
21/07/75 - Assalto a sedes do
PCP em Estarreja, Aveiro, Castelo Branco, Oliveira de Azeméis e Campanhã. Bomba
destrói radiofarol em Vilar Formoso. Destruída sede do MDP e sala da câmara em
Matosinhos.
16/08/75 - Violência
anticomunista. Boicote a comício do PCP em
Alcobaça. Incidentes em Braga no fim de um comício do MRPP. Bombas contra sede
do MES em Vila Nova de Gaia. Assalto a sede do PCP em Algoz.
26/08/75 - Assaltos em Leiria
(MDP), Porto, na Areosa (PCP), Peniche (PCP) e bomba na FSP em Lisboa.
27/08/75 - Assaltos
em Leiria (LCI e FEC) e Esmoriz (PCP)
31/08/75 - Assalto
em Cinfães (MDP). Atentado bombista contra a Emissora Nacional na Madeira.
07/09/75 - Violência
anticomunista. Bomba na Efacec em Matosinhos.
15/09/75 - Violência
anticomunista. Explosões na Emissora Nacional da
Guarda. Tentativa de assalto ao RCP de Miramar.
20/09/75 - Violência
anticomunista. Bombas na Batalha
21/09/75 - Bomba na
messe da Marinha em Cascais onde dormia Pinheiro de Azevedo
21/09/75 - Violência
anticomunista. Bombas no Porto e em Leiria.
22/09/75 - Bomba
contra sede do PCP na Marinha Grande
24/09/75 - Bomba contra sede
do PCP em Vieira do Minho e na E. Nac. De Bragança
25/09/75 - Violência
anticomunista/ Terrorismo de Direita. Bombas num
automóvel em Monsanto. Morte de três elementos de um comando do ELP que
tentavam fazer explodir antena da RTP.
09/10/75 -
Atentado contra sindicalista em Montoito
09/10/75 - Bombas contra MDP e
delegação do ministério da agricultura em Mirandela
10/10/75 - Atentado
contra militante do PCP em Elvas
10/10/75 -
Violência de Direita. Bombas em Lagos e
Viana do Castelo
15/10/75 - Bomba contra
militante do PCP em Fafe. No Porto contra sede da LCI. Em Elvas contra a
Estação de Melhoramento de Plantas.
16/10/75 - Bomba em Alcácer do
Sal contra instalações do ministério da agricultura
17/10/75 -
Bomba anticomunista em Melgaço
18/10/75 Incendiada
sede da UDP no Porto
21/10/75 - Bomba
contra livraria comunista no Porto.
23/10/75 - -
Violência anticomunista. Tiros em Lisboa contra viatura do RALIS
25/10/75 - Terrorismo de
Direita/Violência anticomunista. Cinco bombas em
Lisboa contra carros de militares de esquerda
25/10/75 - Violência
anticomunista. Bomba contra a Editorial Inova do
Porto
29/10/75 - Bombas
contra militante do PCP no Porto.
30/10/75 -
Bomba anticomunista em Mirandela
31/10/75 - Bombas
anticomunistas em Fafe e Vila Nova de Famalicão
02/11/75 - Violência
anticomunista. Bombas em Chaves, em Lisboa e na
Madeira.
03/11/75 - Terrorismo de
Direita. Bomba em Lisboa contra viatura da Academia Militar.
05/11/75 - Violência
anticomunista. Petardos em Águeda, Évora, Gaia,
Porto e no Comando Naval dos Açores. Bombas contra sindicalistas no Porto e
em Beja
06/11/75 - Bomba contra
militante comunista em Valpaços.
14/11/75 - Bombas
no Porto contra a Intersindical, a UEC e o Rádio Clube Português.
16/11/75 - Bombas
em Melgaço e Matosinhos.
17/11/75 - Violência de
Direita. Bomba em Coimbra contra militante da LCI. Assalto
ao município de Alfândega da Fé.
18/11/75 - Terrorismo
anticomunista. Bomba em Lisboa contra livraria
do Diário de Notícias
27/11/75 - Bombas
em Braga, Viana do Castelo e no Porto
30/11/75 - Bomba contra sede
do PCP em Fafe
04/12/75 - Bomba contra sede
do PCP em Vila Nova de Famalicão
23/12/75 - Bombas contra sedes
do PCP em Freamunde e Póvoa do Varzim.
25/12/75 -
Terrorismo anticomunista. Bomba contra
livraria comunista em Vila Nova de Gaia.
02/01/76 - Rede bombista de
direita. Assalto a centro de trabalho do PCP no Montijo.
Começa a vaga de ataques da rede bombista de direita. Metralhada a livraria
Vitor em Braga
07/01/76
- Rede bombista. Bomba na
cooperativa árvores do Porto. Petardo no domicílio de militante do MDP na Póvoa
do Varzim.
08/01/76 -
Violência anticomunista. Petardo contra
militante do PCP em Fafe. Bomba em carro de funcionário do IRA em Coruche.
Bomba em Amarante contra autarca. Rajadas de metralhadora em Braga contra
carro de turistas espanhóis
13/01/76 - Rebentam
uma série de bombas contra militantes ou instalações ligadas aos comunistas em
Rio Tinto, Porto e Monchique. Agredido militante do PS em Fátima
14/01/76 - Bombas em tabacaria
e pastelaria no Porto
16/01/76 - Bombas em
Montemor-o-Novo (contra PCP), Vila do Conde (sessão do MDP) e Évora (sede do
PS). Petardos contra navio soviético em Leixões. Incidentes em Esposende (bomba
contra autarca). Petardos contra casas de militantes de esquerda em Fafe
17/01/76 - Terrorismo
anticomunista. Bomba contra militante do MDP em
Santo Tirso. Outras bombas em Viseu, Viana do Castelo e Olhalvo.
19/01/76 - Petardo
contra casa de militante do PCP em Bragança.
20/01/76 - Bomba contra sede
do MES em Faro.
21/01/76 - Bombas da Direita.
Rebentamentos em Mértola, Santo Tirso, Porto, Arruda dos Vinhos, Seia, Gouveia,
Braga, Lisboa, S. Martinho do Porto e Braga.
29/01/76 Incêndio
destrói sedes do MES, UDP, FSP e FEC na Covilhã. Seis atentados em Braga.
30/01/76 - Violência de
Direita. Comandos CODECO assaltam instalações da Standard
Eléctrica em Cascais.
03/02/76 - Assalto
a sede do PCP em Mirandela. Os últimos dos centros comunistas ainda em
funcionamento em Trás-os-Montes.
07/02/76 - Violência de
direita. Bombas em Penalva do Castelo e Mangualde.
13/02/76 - Assalto a centro de
trabalho do PCP em Mirandela.
15/02/76 - Assalto a centro de
trabalho do PCP em Tortosendo.
12/03/76 - Dois
elementos do PCP são espancados em Braga
15/03/76 - Granadas contra
sede do PCP em Espinho.
03/04/76 - Morte do
Padre Max da UDP na zona de Vila Real, por atentado bombista
29/04/76 - Suspensão do MD
"Foi só em Agosto de 1976 que os portugueses ficaram a conhecer os
responsáveis por mais de 150 crimes de terrorismo. Era os homens da rede
bombista. Que também tinham sido do MDLP.
Só em Julho de 1975 ocorreram 86 acções de violência contra centros de
trabalho e dirigentes do partido (NDR. do PCP). Em Agosto, foram contabilizados
153 assaltos, dos quais 55 com destruição dos centros de trabalho do PCP, 25 do
MDP/CDE, 39 fogos-postos, 15 bombas e dezenas de agressões.” Este
movimento se afirmava apenas no plano da luta política, ainda que admitindo o
recurso à violência para resistir à influência do PCP (...)”
“(NDR. em 1976) Um relatório da Polícia Judiciária Militar regista 453
acções terroristas (...)”
” (...)depois da independência de Angola, em 11 de Novembro, o MDLP e
todas as outras organizações de extrema-direita como o ELP, e os Codeco,
receberam uma boa fornada de gente habilitada em matéria de bombas. (...)”
“(...) partir desse momento da independência de Angola que nasceram
algumas das ligações mais perigosas de que há memória na história contemporânea
de Portugal, entre esses operacionais (...) e dirigentes de partidos políticos.
Ramiro Moreira, (...) desempenhou as funções de chefe da segurança pessoal de
Sá Carneiro e do PPD. Vasco Montez, chefe dos Codeco, (...) colaborou na
segurança do PS. José Esteves, Luís Ramalho (...), entre outros, também dos
Codeco, foram seguranças no CDS. Um deles chegou mesmo a ser "motorista
pessoal" de Freitas do Amaral, (...)”
Notas Soltas retirado de
http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?idCanal=0&id=200633
Embora oficialmente desmantelado pelo General Spínola, em Abril de 1976,
os operacionais do MDLP continuaram as suas acções...
“Antigos integrantes
do MDLP em roda livre, só em 1976, segundo a Polícia Judiciária Militar,
fizeram 453 acções terroristas.”
“Em Abril de 76 foi
assassinado à bomba o padre Maximiano, candidato da UDP, em Vila Real.”
“Uma bomba matou
dois diplomatas na embaixada de Cuba.”
“Em 1 de Maio, um
carro armadilhado matou uma mulher, junto ao centro de trabalho do PCP, na
Avenida da Liberdade, em Lisboa.”
LP. Spínola, no Rio de Janeiro, suspende a actividade do MDLP.
O MDLP, retirado de
http://dossiers.publico.pt/25novembro/artigos_relacionados/rede_politica_mdlp.html
“Os financiadores do MDLP foram figuras ligadas à banca e à indústria no
antigo regime, como António Champalimaud, Manuel Bullosa, Queirós Pereira e
Miguel Quina. (...) A um outro nível, figuras como os industriais Ferreira
Torres, (...) Rui Castro Lopo, (...) o comendador Abílio Oliveira, de
Santo Tirso, Valentim Loureiro, foram financiadores mais ligados às estruturas
operacionais do movimento (...)”
“Os homens mais ligados à actividade ofensiva contra a esquerda em 1975
foram Alpoim Calvão, (...) Ramiro Moreira, chefe de segurança do então PPD,
(...) e Manuel Macedo, industrial nortenho agora alvo de uma investigação da
Polícia Judiciária por suspeitas de espionagem a favor da Indonésia (...)"
Mas no terreno misturava-se tudo: o MDLP era apoiado por um vasto leque de
ex-agentes e oficiais da PIDE e da Legião Portuguesa (...)”
“(...) As relações com o CDS eram muito próximas, tal como com o PSD, por
afinidades ideológicas, nessa altura já evidentes. (...)”
“A estrutura política do MDLP tinha, por assim dizer, três polos.
Um primeiro gravitava à volta das movimentações de António Spínola, (...)
Um segundo núcleo era constituído pelo grupo operacional que tinha um enorme
peso nas decisões e que vivia sobretudo das movimentações de Alpoim Calvão. Por
fim, os homens que formavam um grupo político encarregado de pensar o programa
do movimento e definir passos estratégicos. (...)”
“MDLP assumia no seu programa que, "numa primeira fase",
pretendia "enquadrar e apoiar o povo português na sua luta contra a
implantação em Portugal de qualquer regime totalitário". Foi durante esta
fase que a organização recorreu a todos os meios para encurralar o PCP numa
investida que, no limite, poderia culminar na ilegalização deste partido. (...)”
O silenciamento de Joaquim Ferreira Torres, financiador do MDLP, retirado
de
http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?idCanal=0&id=200633
“Joaquim (patriarca da família Ferreira Torres, irmão do truculento Avelino que
até Outubro do ano passado presidiu à Câmara de Marco de Canaveses) era um
próspero empresário (...)
Senhor de considerável fortuna, financiou a rede terrorista de direita que, nos
tempos revolucionários após o 25 de Abril de 1974, pôs o Norte do País a ferro
e fogo. O principal alvo era o Partido Comunista: dezenas de dirigentes
sofreram espancamentos ou sobreviveram a atentados e centros de trabalho foram
destruídos à bomba.
No centro desta espiral de violência, estava o Movimento Democrático de
Libertação de Portugal (...)
O julgamento da rede bombista de extrema-direita acabou por ser anulado
pelo Supremo Tribunal de Justiça e mandado repetir.
Joaquim Ferreira Torres aguardava em liberdade a repetição do julgamento. (...)
tornou-se num perigo para os velhos companheiros: (...) Foi silenciado para
sempre (...)
(...) uma brigada de homicídios da Polícia Judiciária do Porto chegou
oficialmente ao local do crime – mas já lá tinha estado uma outra equipa da PJ.
(...) destruíram pistas e semearam outras que se revelaram falsas.
Ainda assim, dois inspectores da Polícia Judiciária estiveram a um passo
de desmascarar o autor do crime. (...) Perderam a vida em serviço, muito convenientemente,
num desastre de automóvel, na estrada entre Viseu e Mangualde.
(...) Restou apenas a convicção dos investigadores: os culpados estiveram
no funeral de Ferreira Torres – e apresentaram comovidos e de gravata preta os
mais sentidos pêsames à família.
Entrevista a Alpoim Calvão, retirado de
http://www.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=eacalvao
“(...) Incendiaram-se as sedes, reagiu-se... Gerou-se assim uma vaga de fundo
em que uns entravam pelo rés-do-chão e os outros, saiam a voar pelo primeiro
andar. Mas em muitas sedes os comunistas defenderam-se a tiro de caçadeira...
(...)
(...) Antes disso (NDR. O 25 de Novembro), podem dizer que fui eu que as
mandou pôr (NDR. as bombas), a todas, que eu não desminto.
Termina aqui a série Verão Quente.
Não foi uma pesquisa exaustiva sobre os acontecimentos desse verão, nem
tão pouco pretendeu ser imparcial. Apesar disso não pretendo, com os relatos
objectivos e a cronologia real dos acontecimentos que aqui foram expostos,
branquear da outra facção.
A ideia desta pequena pesquisa surgiu por uma frase que li algures onde se
dizia que a Esquerda pretende apagar a história.
Esta série traduz-se no meu grito contra o branqueamento das acções da Direita
nesse período; contra a impunidade dos autores morais e materiais desses
crimes; contra a seleção da nossa história contemporânea, realizada pelos
partidos de Direita e Centro-Direita, todos eles de algum modo relacionados com
o MDLP, que nos governaram desde então!
Muito ainda há por dizer.
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