Caixa tem 2,3 mil milhões de euros em dívidas de risco. Quem
deve mais?
Amigos
dos corruptos com direito a créditos sem deixarem garantiam?
Veja
a lista dos que andam a viver com o dinheiro dos teus impostos e não pagam o
que devem.
A maioria destas operações foi
autorizada na década passada e o jornal destaca o peso das transações com
perdas decididas durante a gestão de Carlos Santos Ferreira e Armando Vara que
esteve no banco público entre 2005 e o final de 2007. Haverá, no entanto,
operações novas realizadas depois dessa data e ainda a renovação ou mesmo
ampliação de empréstimos já concedidos.
Os créditos e os investimentos mais problemáticos da
CGD em Portugal e Espanha remontam ao período entre 2005 e 2010 e resultaram em
perdas de €6 mil milhões.
O pior período de erros de gestão na
Caixa Geral de Depósitos (CGD) concentrou-se entre 2005 e 2010. Empréstimos de
dezenas de milhões de euros, ou por vezes mesmo de centenas de milhões de
euros, concedidos com garantias frágeis, investimentos em aquisições de
participações sociais e uma elevada exposição, através de crédito, a empresas
espanholas que se relevou ruinosa, foram algumas das decisões que estão ainda
hoje a pesar nas contas da Caixa.
Foram anos de euforia. José
Sócrates era primeiro-ministro. Carlos Santos Ferreira e Armando Vara lideravam
a Caixa, como presidente e administrador, respetivamente, onde estiveram entre
2005 e 2008. Saltaram depois para a administração
do BCP. Foi um período de boom de crédito para investimentos mais arriscados e
especulativos — houve vários empréstimos para compra de ações e foi
nesta altura que a CGD emprestou quase €300 milhões para o empreendimento
turístico de Vale de Lobo (um projeto liderado por Hélder Bataglia),
tornando-se acionista. Um negócio que remonta a 2006 e que
está a ser investigado.
O total de imparidades registadas
pelos nove maiores devedores chega aos 912,1
milhões de euros. Seguem os nomes que surgem na lista
dos maiores devedores da CGD divulgada pelo jornal: CM
Grupo Artlant – 476,4 milhões de euros e 214 milhões em
perdas de crédito (imparidades) reconhecidas. A Artlant foi criada para desenvolver um grande projeto
industrial em Sines, com a construção de uma unidade do setor químico. O
promotor era o grupo catalão La Seda, grupo que depois de entrar em crise
chegou a ter como acionista de referência o empresário português Carlos Moreira
da Silva, líder da Barbosa e Almeida (e acionista do Observador). A Caixa Geral
de Depósitos começou por ser uma grande financiadora, mas acabou por se tornar
acionista da La Seda, onde ainda tem 14%, e da própria Artlant. Um envolvimento
que tinha também como objetivo assegurar a realização do investimento na
fábrica de Sines.
A empresa avançou com um processo de
revitalização especial (PER) e em 2015, a Caixa reclamou créditos superiores a
520 milhões de euros. A última informação disponível já do início de 2015 é da
que foi proferida a sentença de homologação do plano de recuperação.
Grupo Efacec – 303,2 milhões de euros de créditos e 15,2
milhões de imparidades. A exposição resultará do
financiamento à empresa, mas também aos seus dois maiores acionistas, o grupo
José de Mello e a Têxtil Manuel Gonçalves. Os grupos portugueses venderam 65%
da principal unidade do grupo Efacec, a Efacec Power Solutions, a Isabel dos
Santos há cerca de um ano. O negócio, avaliado em 200 milhões de euros, foi
mais do que uma simples venda, esteve enquadrado numa reestruturação de dívida
dos acionistas e da empresa. A Caixa enquanto credora participou no
financiamento desta operação.
Vale de Lobo – 282,9 milhões de euros de exposição e
138,1 milhões em imparidades. É um negócio imobiliário polémico que
se cruza com o inquérito judicial ao antigo primeiro-ministro José Sócrates e
que envolve ainda Hélder Bataglia, o presidente da Escom. A decisão da Caixa
Geral de Depósitos de entrar no empreendimento de luxo no Algarve data de 2006
e tem sido atribuída ao então administrador do banco público, Armando Vara. A
Caixa é acionista da sociedade que explora Vale do Lobo, ao mesmo tempo que é a
maior financiadora. Em 2014, a holding de imobiliário que detinha esta
participação reconheceu perdas de 196 milhões de euros, parte da qual será
atribuída a Vale do Lobo. Nas contas de 2015, a Caixa diz que a situação
líquida era negativa em 137 milhões de euros. O banco do Estado tem uma
participação financeira de 24%, mas é também o maior credor deste
empreendimento que no ano passado foi posto à venda.
Auto Estradas Douro Litoral – 271,3 milhões de
exposições e 181,4 milhões de créditos perdidos. A concessão de autoestradas volta a cruzar os caminhos do banco
do Estado com o grupo José de Mello que, através da Brisa, é um dos maiores
acionistas desta concessionária que entrou em incumprimento dos compromissos
financeiros assumidos com os bancos financiadores, nomeadamente ao nível dos
rácios. A Douro Litoral é uma concessão com portagens cuja receita tem-se
revelado muito abaixo do previsto e insuficiente para remunerar o investimento.
A empresa tem em curso vários pedidos de compensação financeira ao Estado, no
valor global de cerca de 1,4 mil milhões de euros que estão a ser analisados em
tribunal arbitral.
Grupo Espírito Santo – 237,1 milhões de euros em
créditos e 79 milhões de imparidades.
A Caixa Geral de Depósitos, enquanto maior banco português, foi também a
instituição financeira que mais exposta estava ao Grupo Espírito Santo. O
Observador fez um levantamento, em maio do ano passado, da exposição da banca
ao GES, ainda com base em listas provisórias de valores reclamados pelos
credores de sete sociedades que estavam em processo de revitalização ou
insolvência. O montante era da ordem dos 1.300 milhões de euros. A Caixa
reclamava cerca de 410 milhões de euros.
Grupo Lena – 225 milhões de créditos e 76,7 milhões de
imparidades. O grupo construtor com sede em
Leiria foi um dos que mais cresceu durante o último ciclo de obras públicas em
Portugal, durante os governos de José Sócrates. O Grupo Lena esteve nas
autoestradas, na renovação do parque escolar, e no projeto da rede de alta
velocidade (TGV), onde fez parte do consórcio que ganhou o primeiro contrato, e
que entretanto foi cancelado. A Lena cresceu também para outros setores —
turismo, energia e comunicação social — e outras geografias, ganhando
importantes contratos em mercados emergentes, como a Argélia e a Venezuela. A
demora e incerteza na concretização destes contratos internacionais, alguns
obtidos à boleia das viagens oficiais do ex-primeiro ministro, José Sócrates, e
a asfixia do mercado de construção português apanharam o grupo em contramão, em
plena aposta expansionista. A Lena teve que travar a fundo e fazer uma
reestruturação do seu endividamento.
Grupo António Mosquito – 178 milhões de euros e 49,2
milhões de euros de créditos perdidos.
O empresário angolano está associado a dois investimentos em Portugal: a Soares
da Costa e a Controlinveste. No caso da Caixa, a exposição a António Mosquito
poderá resultar do financiamento ao empresário português que era o maior
acionista da Soares da Costa, Manuel Fino. A Caixa era um das grandes
financiadoras de Manuel Fino, tendo inclusive, executado uma parte das ações
que o empresário tinha na Cimpor.
Reyal Urbis – 166,6 milhões de euros de empréstimos que
lhe foram concedidos, com 133,3 milhões de imparidades. A imobiliária espanhola já estava identificada em 2013
como uma das principais devedoras da Caixa, altura em que apresentou um
processo de insolvência — o segundo maior da história de Espanha. No ano
anterior, o endividamento da empresa tinha chegado ao 3, 6 mil milhões de
euros. O Santander e a filial Banesto estavam entre os maiores credores da
imobiliária que lhe devia 830 milhões de euros, apontava então o jornal
espanhol El Mundo que colocava a CGD na lista dos credores minoritários.
Finpro SCR – 123,9 milhões de euros e 24,8 de imparidades
totalizadas. Esta sociedade teve como acionistas
Américo Amorim, o fundo da Segurança Social e o Banif, e realizou vários
investimentos internacionais, financiados com dívida, sobretudo na área das
infraestruturas. A Finpro entrou em processo especial de revitalização em 2014
e notícias apontam a Caixa como detentora de mais de metade da dívida da
Finpro. Uma das participações da Finpro era na sociedade gestora do Porto de
Barcelona que foi vendida no ano passado. A sociedade terá entretanto sido considerada
insolvente com uma dívida de 268 milhões de euros.
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