Pedro Passos Coelho participou ontem num almoço onde, segundo o relato feito pela comunicação social, disse essencialmente três coisas. Cada uma delas mais inacreditável que a outra.
Primeira: Passos revelou que, quando era Primeiro-Ministro, “teríamos necessidade entre 40 a 50 mil milhões de euros para poder imunizar o sistema bancário dos riscos mais elevados”.
Ou seja, Passos confessa que sabia – mais, que tinha uma noção aguda e exata –das dificuldades do setor financeiro. Ora, então por que nada fez? Por que andou a arrastar os pés, sem resolver os problemas do Banif, da Caixa, etc.? Por que escondeu estes problemas, permitindo que se agravassem? Mais concretamente, se sabia que era preciso esse dinheiro todo, por que não utilizou sequer os 12 mil milhões destinados pela troika para o setor financeiro?
Segunda: Passos afastou liminarmente a hipótese de uma solução europeia para o crédito mal parado, sustentando que tal solução “é a história da carochinha”.
Ou seja, numa altura em que Portugal tem reconhecidamente um problema de acumulação de crédito mal parado e, portanto, tem todo o interesse em que haja uma solução ao nível europeu para lidar com esse problema, Passos Coelho vem descartar tal solução, afirmando que ela é impraticável. Sucede, no entanto, que tanto a Autoridade Bancária Europeia, como o Banco Central Europeu, como o Mecanismo Europeu de Estabilidade já se pronunciaram publicamente a favor da referida solução europeia – a qual, portanto, não só é viável, como é desejada pelas principais instituições competentes; e seria altamente benéfica para Portugal. É caso para perguntar: por que é que Passos Coelho, em vez de se pôr do lado que melhor salvaguarda os interesses nacionais, entende colocar-se do lado oposto (o de Schäuble, por sinal)?
Terceira: apesar de termos alcançado o défice mais baixo da história da democracia e de as finanças públicas estarem controladas, Passos insistiu que “nós não temos nenhuma possibilidade de acumular políticas generosas do ponto de vista financeiro quer para funcionários públicos e pensionistas”. Pelo que “o PS pode lá ficar à vontade. Terá tempo para explicar aos portugueses por que não tem dinheiro”.
Ou seja, contra todas as evidências, o (ainda) líder do PSD continua a acreditar que o diabo vem aí. Embora sem ousar mencionar aquele-cujo-nome-não-deve-ser-pronunciado, Passos Coelho anda à espreita do belzebu, quiçá murmurando entre dentes: “Teufel, bitte kommen Sie schnell!”
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