Com Ações Contra Lava Jato, Congresso
Mais Parece Um Sindicato Do Crime Organizado
Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, comparou
projetos em tramitação no Congresso Nacional à reação legislativa ocorrida
Itália contra a Operação Mãos Limpas e disse ver uma “reação de centros do
poder político e econômico” à Operação Lava Jato.
Segundo
Janot, após a Mãos Limpas –operação comparada à Lava Jato por ter investigados
casos de corrupção que atingiram diversos políticos— foram aprovadas na
Itália uma série de leis que dificultaram as investigações contra políticos.
Janot afirmou que, até por “autopreservação”, uma
investigação que toca nos centros de poder político e econômico impõe uma
reação desses setores”.
“Essas
medidas legislativas que ocorreram na Itália, de certa forma ou outra, são
discutidas aqui no Brasil. Então acho que podemos fazer esse parâmetro, dessa
leitura de provável reação de centros de poder político e econômico”, afirmou
Janot.
Atualmente,
o Congresso Nacional discute um projeto de lei de abuso de autoridade, outro sobre acordos de leniência com empresas acusadas de corrupção e
ainda o projeto originado em mobilização do próprio Ministério Público que
prevê medidas de combate à corrupção.
Pontos
do texto têm sido criticados por promotores e deputados chegaram a tentar
aprovar uma anistia ao crime de caixa dois, que são as doações eleitorais não
declaradas oficialmente.
Janot
afirmou ser favorável a um projeto que atualize a lei sobre abuso de
autoridade, mas disse que o projeto atual é falho, porque deixa em aberto quais
são as condutas puníveis como abuso.
“É
óbvio que todos nós queremos uma lei que proíba ou que puna o abuso de
autoridade”, disse.
Para
o procurador-geral, uma lei sobre abuso de autoridade não pode punir os
chamados “crimes de hermenêutica”, que seriam a punição a atos funcionais de
juízes e promotores por discordar da opinião jurídica manifestada por eles nos
autos.
“Uma
lei de abuso de autoridade tem que ser didática. Hoje o ato mais sensível de
abuso e autoridade é a famosa carteirada. Essa lei de abuso de autoridade não
se refere a isso”, disse.
No
entanto, Janot afirmou que mantém uma relação “institucional” com os
presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), e tem conversado com eles sobre os projetos em tramitação.
Corrupção “Endêmica”
O
procurador-geral afirmou também que a Lava Jato não vai acabar com a corrupção
no Brasil, mas pode, sim, pôr um fim ao que ele chamou de “corrupção endêmica”.
Janot
comparou esse tipo de corrupção a uma vara que estaria vergada, a ponto de ser
quebrada pela Lava Jato.
Ninguém tem a ilusão de que essa investigação vai acabar
com a corrupção no Brasil. Não vai acabar. O que a gente tem é que controlar
essa corrupção endêmica”
“Quando
me refiro à vara que está vergada é porque estamos em um nível em que estamos
por vencer o limite dessa corrupção endêmica. Nós temos que cruzar essa linha e
dizer: agora nós vencemos a corrupção endêmica. A corrupção episódica isso
existe no mundo inteiro e vai continuar existindo”, afirmou Janot.
“Pacto Diabólico”
Janot
também comentou a declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que afirmou ser
alvo de um “pacto quase diabólico” entre a imprensa e
os órgãos da Justiça que atuam em investigações contra ele ligadas à Operação
Lava Jato.
“Nós
vivemos num país livre em que o direito de crítica e manifestação é assegurado
na Constituição. Ele tem todo o direito de externar crítica”, afirmou Janot, em
encontro com jornalistas para a apresentação de um balanço sobre as atividades
da Procuradoria.
“O
que posso dizer é que eu não sou religioso”, disse o procurador-geral.
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