quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Bónus milionário para os partidos aprovado sem deixar rasto na época natalícia

Bónus milionário para os partidos aprovado sem deixar rasto

À porta fechada, sem actas, ocultando que partidos fizeram cada proposta - sinalizadas com as letras A, B e C. A lei que deu uma prenda de Natal aos partidos foi aprovada em segredo. O destino dela está agora nas mãos de Marcelo. 
Não há actas das reuniões. Não há registo da audição ao presidente do Tribunal Constitucional. Não há um só papel guardado, muito menos registado no site do Parlamento, com as propostas de redacção da lei ou de que partidos vieram. Mais: o PÚBLICO descobriu um email trocado entre os oito deputados que prepararam tudo, com um quadro comparativo das três propostas de alteração, no qual em vez do nome do respectivo partido, se organiza a tabela por A, B e C, “salientando a natureza reservada do documento” - não fosse o diabo tecê-las e haver uma fuga de informação que permitisse perceber a origem das propostas.

As alterações que o Parlamento aprovou no dia 21 de Dezembro ao financiamento dos partidos — acabando com os limites para angariar fundos e concedendo a si próprios a garantia de devolução total do IVA — foram feitas sem deixar rasto. Foram nove meses de discussão na Assembleia, num grupo de trabalho dito “informal” (mas que no site do Parlamento aparece como formal) e que funcionou sempre à porta fechada, sem que os jornalistas pudessem acompanhar as discussões.  

José Silvano, o deputado do PSD que coordenou os trabalhos, reconhece o método adoptado: “Se é um grupo informal, não há propostas [oficiais]. Os partidos sugeriram essas propostas, mas não sei qual e em que pontos”, disse ao PÚBLICO. E não há provas documentais do processo? “Não existem actas, de documental só existe a lei que foi aprovada. No grupo de trabalho não havia votação e as propostas eram apresentadas oralmente”, confirma o deputado. E com a colaboração dos responsáveis financeiros dos partidos, que foram envolvidos — o que Luís Patrão, do PS, reconhecia na notícia do PÚBLICO que deu o caso ao conhecimento de todos.

A ideia era que tudo fosse como no jogo do “amigo secreto” - todos davam as prendas, mas ninguém teria que saber de quem era. Porque o objectivo era que, no final, houvesse unanimidade na votação das alterações à lei. Só que o CDS estava contra. E bloqueou o processo que estava a ser feito em contra-relógio logo em Julho, impedindo os restantes partidos de aprovarem o bónus antes do Verão e a tempo das autárquicas.  

O segundo acto, confirmou o PÚBLICO, foi decidido a mais alto nível, nas lideranças parlamentares. Na conferência de líderes, o presidente da Assembleia da República alertou que era preciso resolver o problema detectado pelo Tribunal Constitucional (TC) com urgência, antes que os partidos ficassem sem fiscalização. E, aproveitando o mote, com o CDS a manter o “não” às duas propostas polémicas, os restantes decidiram avançar na última votação antes do Natal, quase fazendo passar despercebida a alteração - porque face à natureza secreta da discussão, ninguém sabia o que ia ser posto a debate. Foi assim que, no dia 21, a lei foi aprovada de uma assentada na generalidade, em especialidade e votação final global, apenas com votos contra do CDS e do PAN.

Pelo meio, a proposta passou brevemente pela Comissão de Direitos Constitucionais, da qual dependia o grupo de trabalho. Pedro Bacelar Vasconcelos, que preside a essa comissão, lembra-se de a ter levado “à discussão”, mas de ter sido apreciada “sem objecções”. Mas estranha que o processo de discussão não tenha deixado rasto documental no grupo de trabalho. “Se não há registo, surpreende-me”, assume o socialista. “E, se é assim, a situação justifica que se reveja o estatuto e funcionamento dos grupos de trabalho, para adaptar as regras à exigência de transparência que é dever do Parlamento”, declara ao PÚBLICO.

Nove meses discretos

Tudo começou em Abril, quando o presidente do Tribunal Constitucional alertou os deputados para dois problemas relativos à sua responsabilidade de fiscalizar os partidos. Primeiro, que o tribunal estava a funcionar como instrutor e decisor ao mesmo tempo, o que levantava um problema de inconstitucionalidade. Segundo, que não havia direito a recurso de uma decisão. Acontece que, se este foi o mote inicial, o grupo de trabalho acrescentou-lhe dois pontos: acabar o valor máximo para os fundos angariados (uma reclamação do PCP para não ter mais problemas com a Festa do Avante!, mas que o PSD aproveita no Chão da Lagoa) e deixar preto no branco que os partidos passam a ter devolução do IVA de todas as suas despesas (ao contrário do que o Fisco tem determinado em vários casos, o que já levou o PS a reclamar cinco milhões em tribunal).

Ontem, o PÚBLICO tentou saber junto dos deputados envolvidos na comissão quem tinha proposto o quê, ao longo destes meses. Mas os quatro partidos que aprovaram a legislação não responderam.

O que há — e o PÚBLICO teve acesso a essa documentação - é uma troca de emails do coordenador do grupo de trabalho com os deputados. É aí que se percebe que a discussão só está presa às questões levantadas pelo TC até Junho. É que, a 7 de Junho, há um email enviado pelo coordenador, José Silvano, fazendo um ponto de situação das propostas entradas. É onde aparece o quadro comparativo das propostas, organizado por partido A, partido B e partido C. Sendo que é num outro email, enviado a 29 de Junho, que já se percebe que o processo já está a gerar divisões entre os deputados: “Mais se informa que, no referido texto, se assinalam a vermelho as matérias/disposições em relação às quais foram manifestadas reservas”, lê-se no documento, que leva em anexo a “proposta consensualizada”.

Agora, a lei está aprovada — e já chegou à Presidência da República, para promulgação. Marcelo pode pôr a sua assinatura — ou vetar a lei e devolvê-la ao Parlamento.

A alteração à lei de financiamento dos partidos, que foi discretamente aprovada no Parlamento em plena época do Natal, tem motivado críticas generalizadas. A polémica ganhou eco nos espaços de opinião dos meios de comunicação e nas redes sociais, como agora tem sido prática corrente.
É importante recordar que, seja para esta ou para outras leis, há mecanismos próprios que os cidadãos podem e devem exercer para que a sua voz seja ouvida para lá do Facebook e do Twitter. Aliás, a livre participação nos mecanismos da sociedade democrática é um direito na república – e um dever de cidadania activo. Por isso, vale a pena resumir algumas formas de participação social e política disponíveis em Portugal.

primeira e mais óbvia forma de participação democrática é o voto. Votar com regularidade nos diversos actos eleitorais garante a manutenção da relevância do sistema político e assegura que a representatividade funciona. Para exercer o direito de voto, convém estar informado, pelo que o consumo de informação isenta e credível é essencial – e os meios de comunicação de referência fazem parte do sistema democrático e o seu consumo regular faz parte da capacitação cidadã. À partida, quanto mais bem informada estiver a sociedade, melhores são as suas escolhas.

Uma segunda forma de participação democrática tem a ver com o direito de reclamação. Há vários actores do sistema político a quem é possível recorrer para proceder a reclamações:

- a página oficial da Presidência da República tem um formulário próprio para “escrever ao Presidente”, que é uma forma eficiente de fazer sentir preocupações de cidadania ao mais alto titular da nação;

. da mesma forma, pode também ser preenchido o formulário para entrar em contacto com o gabinete do presidente da Assembleia da República, que é a segunda figura do Estado;

. Na página da Assembleia da República, está também disponível a lista de contactos dos grupos parlamentares, podendo através destes entrar em contacto com os deputados;

. o provedor de Justiça também permite efectuar uma queixa online (embora no momento da publicação esta página não esteja disponível);

terceira forma de participação tem a ver com o envolvimento directo nas instituições políticas. Esta forma passa pela participação ou mesmo criação de uma petição à Assembleia da República, que será discutida em plenário caso atinja as quatro mil assinaturas – mesmo que atinja "apenas" mil, os seus peticionários terão sempre de ser ouvidos. A outra forma de participação directa será o envolvimento na vida dos partidos políticos o que, no limite, pode configurar a criação de um movimento de cidadãos ou de um partido político.

A verdade é que a reclamação nas redes sociais vale pouco ou nada em termos de cidadania. A participação social, essa, é inestimável e tem mecanismos próprios para ser efectiva. É usá-los.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

RARÍSSIMAS - JÁ ASSINA COMO FUNDAÇÃO -

INVESTIGAÇÃO EM CURSO
Há dias, porém, toda esta maquilhagem começou a desbotar.
Segundo uma investigação da TVI, a presidente Paula Brito e Costa, de 50 anos, terá usado a instituição para seu benefício e de familiares, usufruindo de quase seis mil euros de rendimentos mensais e de um BMW cujo pagamento é suportado pela Raríssimas. Apesar dos apoios do Estado – só o Ministério do Trabalho, da Solidariedade e Segurança Social deu 875 mil euros este ano - a associação está mergulhada em problemas financeiros há vários anos e é alvo de ações que reclamam mais de 152 mil euros no âmbito judicial. Mesmo assim, Paula Brito e Costa, que está a ser investigada pela Polícia Judiciária, é suspeita de gerir de forma despesista a instituição e de usar dinheiro da mesma para compras em supermercados, vestuário e outros gastos luxuosos sem correspondência com a atividade da associação.
Em causa estarão os crimes de burla, falsificação de documentos, peculato e administração danosa. Na reportagem, foram ainda revelados dois casos polémicos envolvendo a Raríssimas:
um contrato com Manuel Delgado, atual secretário de Estado da Saúde, que, enquanto consultor, terá recebido cerca de 3 mil euros mensais da instituição entre 2013 e 2014; e o alegado pagamento, em 2016, de uma viagem a SóniaFertuzinhos,
deputada do PS e casada com o ministro Vieira da Silva,
ao estrangeiro, embora aquela parlamentar socialista já tenha garantido que a organização da conferência sobre doenças raras na qual participou devolveu o valor à Raríssimas. O Presidente da República,  Marcelo Rebelo de Sousa, diz-se satisfeito com o facto de o Governo ter aberto "um inquérito para apurar até ao fim aquilo que aconteceu", mas deixou um recado: "Que não seja preciso denúncias para o Estado saber o que se passa nestas instituições". A associação fala, entretanto, em "acusações insidiosas" e "informações manipuladas", prometendo reagir em breve de forma mais fundamentada.
DO GINÁSIO AO SOCIAL
Residente em Caneças, medalha de ouro da Câmara Municipal de Odivelas e frequentemente citada nos eventos sociais noticiados pelas revistas “cor-de-rosa”, Paula Brito e Costa é casada e tem um filho (o outro, Marco, faleceu com uma doença rara e, segundo o seu testemunho, foi a inspiração para criar a Raríssimas). Natural de Loures, filha de um casal alentejano (ele fuzileiro, ela doméstica), Paula deu aulas de ginástica de alta competição e foi manequim profissional durante nove anos. “Nunca ganhei tanto dinheiro na vida”, revelou numa entrevista ao jornal i, em 2011, estávamos ainda longe do sucesso da Raríssimas. Pelo meio, ainda frequentou a licenciatura de Filosofia, mas nunca chegou a terminar o curso. Casou com o seu mestre de artes marciais e costuma dizer que só Deus e o marido a conhecem bem. Enquanto presidente da Federação das Doenças Raras de Portugal (Fedra) – suspendeu o mandato em março deste ano – Paula Brito e Costa envolveu-se na edição do livro Doenças Raras de A a Z, cujos volumes foram promovidos pelo Ministério da Saúde. De resto, o trabalho desenvolvido pela Raríssimas valeu-lhe, no ano passado, o Prémio Manuel António da Mota, no valor de 50 mil euros, tendo a presidente da associação anunciado, na altura, estar apostada na internacionalização.
Habitualmente critica dos poderes públicos, Paula Brito e Costa considera que a maioria dos políticos “olha para os representantes das associações como uma ameaça” e chegou a vangloriar-se, na já citada entrevista ao i, de ter enviado um e-mail a um ministro da Saúde a explicar qual era a definição de democracia no dicionário, mas recusou dizer o nome do destinatário. “O que salva Portugal é ter gente muito boa a fazer muita coisa boa pelo País", assinalou. "Tenho pena que os políticos, na sua grande maioria, não sejam capazes de ver isso e minimizem os problemas”.

Não obstante aplaudir o “princípio da transparência” das instituições, como fez no ano passado em declarações ao DN, Paula Brito e Costa parece agora ter sido vítima das suas próprias palavras. Haverá muito para desvendar sobre a gestão financeira da associação e já corre uma petição pública com centenas de assinaturas a reclamar a demissão da presidente. Se em criança, Paula tinha “de comer com ovos debaixo dos braços” para aprender a comportar-se à mesa, agora vai precisar de mais verniz e alguma ginástica para explicar como geriu a Associação Nacional de Doenças Mentais e Raras. Pelos vistos, as boas maneiras e as amizades influentes já não chegam.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

O Porto aqui tão perto.

A1
Recorrendo a um código de cores como métrica de avaliação, o relatório da EMA utilizava o verde-escuro como sinal de que o edifício avaliado cumpria todos os requisitos exigidos para além de garantir que estaria operacional a tempo; o verde-claro dizia que o edifício cumpria os requisitos mas levantava preocupações sobre o tempo que demoraria a estar operacional; no laranja claro concluía-se que eram cumpridos os requisitos apenas parcialmente; e o laranja escuro dizia que o edifício não cumpria os requisitos de todo.

Resumo dos comentários técnicos da EMA sobre os requisitos técnicos em relação às propostas dos Estados-Membros anfitriões candidatos a deslocalização da EMA

O Porto aqui tão perto.
Provavelmente a mas linda cidade da Europa, pelo rio, pelas ruas, pelos cheiros e as suas gentes.
Um dia basta para ficarmos enamorados por esta cidade.
Deixemo-nos de guerras entre norte/sul que quem sai a perder é o País. Começou mal e acabou mal esse foi o resultado desta candidatura.
Não vamos fazer dela como de eleições autárquicas se tratasse porque essas todos ganham menos os portugueses.

Num relatório de Setembro tudo levava para que não tivéssemos ilusões.

A1 (tradução)
LegendaAtende aos requisitos da EMA e garante que a EMA esteja operacional a tempo.
Atende aos requisitos EMA, mas suscita preocupações de que a EMA esteja operacional a tempo.
Apenas cumpre parcialmente os requisitos da EMA e, portanto, suscita grandes preocupações quanto à continuidade do negócio da EMA.
Não atende aos requisitos da EMA e, portanto, não garante a continuidade do negócio da EMA
Depois de sabermos com que linhas nos íam coser, vamos ao que aconteceu. Dos três edificios que apresentamos o parecer foi o seguinte:
A2
Nome do edifício Palacio Atlántico
Lay-out
• As instalações propostas, que são um edifício existente, incluindo escritórios e salas de reuniões estarão prontas no primeiro trimestre de 2019.
• A capacidade para as 1300 estações de trabalho do escritório não está assegurada.
• A oferta não fornece informações suficientes para permitir uma revisão do layout. Por isso, suscita grandes preocupações quanto ao facto de
atende aos requisitos da EMA e garante a continuidade do negócio.
• Outras instalações de construção (loja de TI e salas técnicas) também não são abordadas.
Instalações
• A oferta garante que uma rede de telecomunicações com rede digital de alta capacidade e conectividade de alta velocidade
está disponível. UPS e segurança de TI não são abordados na oferta.
• Os recursos de segurança não são abordados.
• Equipamento de instalações para conferências (AV, transmissão e sistema de votação) não é mencionado.
Plano de deslocalização
• Um cronograma de implementação (cronograma) do edifício proposto é fornecido para garantir que o prédio esteja pronto no primeiro trimestre de 2019.
No entanto, nenhum plano de tempo ou relocação é fornecido na oferta e, portanto, não garante a continuidade do negócio EMA.
• Nenhuma estrutura de governança é delineada e o suporte à aquisição não é fornecido.
• Palacio Atlântico é um edifício existente que requer trabalhos de adaptação. A partir dos planos de piso previstos, a estrutura do edifício
muitos pilares que suscitam sérias preocupações sobre adequação para instalações para conferências.

Nome do edifício Palacio dos Correios
Lay-out
• As instalações propostas, que são um edifício existente, incluindo escritórios e salas de reuniões estarão prontas no primeiro trimestre de 2019.
• A capacidade para as 1300 estações de trabalho do escritório não está assegurada.
• Os planos apenas indicam tamanhos e não a capacidade das salas de reunião.
• Somente salas técnicas são abordadas na oferta.
Instalações
• A oferta garante que uma rede de telecomunicações com rede digital de alta capacidade e conectividade de alta velocidade está disponível. UPS e segurança de TI não são abordados na oferta.
• Os recursos de segurança não são abordados.
• Equipamento de instalações para conferências (AV, transmissão e sistema de votação) não é mencionado.
Plano de deslocalização
• Um cronograma de implementação (cronograma) do edifício proposto é fornecido para garantir que o prédio esteja pronto no primeiro trimestre de 2019.
No entanto, nenhum plano de tempo ou relocação é fornecido na oferta e, portanto, não garante a continuidade do negócio EMA.
• Nenhuma estrutura de governança é delineada e o suporte à aquisição não é fornecido.
• Os trabalhos de adaptação são mencionados em um alto nível.
• Não há nenhum plano para a remoção física da EMA.


A3
Nome da construção Avenida Camilo
Lay-out
• O local proposto, que será um novo edifício, incluindo escritórios e salas de reuniões, estará pronto no primeiro trimestre de 2019.
• A capacidade para as 1300 estações de trabalho do escritório não está assegurada.
• Os planos apenas indicam tamanhos e não a capacidade das salas de reunião.
• Outras instalações de construção (loja de TI e salas técnicas) também não são abordadas.
Instalações
• A oferta garante que uma rede de telecomunicações com rede digital de alta capacidade e conectividade de alta velocidade está disponível. UPS e segurança de TI não são abordados na oferta.
• Os recursos de segurança não são abordados.
• Equipamento de instalações para conferências (AV, transmissão e sistema de votação) não é mencionado.
Plano de deslocalização
• Um cronograma de implementação (cronograma) do edifício proposto é fornecido para garantir que o prédio esteja pronto no primeiro trimestre de 2019.
No entanto, nenhum intervalo de tempo ou deslocamento é fornecido na oferta e, portanto, não garante a continuidade do negócio EMA.
• Nenhuma estrutura de governança é delineada e o suporte à aquisição não é fornecido.
• Não há nenhum plano para a remoção física da EMA.

Amesterdão foi a escolhida para receber a sede da Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla em inglês). A cidade holandesa empatou na terceira ronda de votações com Milão (13 votos para cada uma, com a abstenção da Eslováquia) e depois venceu o sorteio.

“Queríamos ganhar e entramos nesta corrida para ganhar. Mas sempre percebemos que a batalha era muito difícil. Apesar de geograficamente periférico, o país mostrou que tinha capacidade e que cumpria todos os critérios e que o Porto podia receber uma agência desta natureza e dimensão”, reagiu o presidente da câmara, em comunicado. Rui Moreira.

sábado, 18 de novembro de 2017

VEJAM ANTES QUE SAIA DO AR


Srº Chefe do Estado Maior do Exercito - Por Pedro Tinoco de Faria

Srº Chefe do Estado Maior do Exercito
Tinha jurado, não escrever mais sobre isto, mas ontem ao ouvir a sua ligeireza e boa disposição, e até risadas acompanhadas pelos sabujos que o veneram , e pelas costas falam mal de si, Eu, como o Oficial do Exercito, a quem o senhor proibiu o lançamento do livro que escrevi, na Academia Militar, na casa onde me formei, e que não é sua, mas sim nossa, e de todos que passamos por aqueles bancos de honra e dever, e depois na televisão, eu não ter dito uma unica palavra a deprecia-lo, hoje não resisto a dizer-lhe publicamente algumas palavras sobre o Exercito que comanda.
Contrariamente ao que disse, os seus comandantes não confiam em si, os seus comandantes perderam o norte e talvez tambem os tomates, porque continuar a servir sob o seu Comando, é uma ferida na sua dignidade e honra de ser Soldado e fazem-no por dever e por obediência e respeito a algo muito maior que o CEME, que é o Pais.
O Srº Comanda um Exercito sem norte, e sem saber bem o que quer, um exercito de Coroneis que são exonerados e vexados publicamente e que depois aceitam ser reconduzidos, e não houve um que o metesse a si em tribunal exigindo respeito e desculpas pelo que lhes fez, comanda um Exercito onde já demos tudo aos políticos e onde os Generais não se entendem, nem são solidários, um cai e como o senhor já está outro a salivar na calha, para substituir alguém que nunca devia ter saído do Comando do Exercito, um Exercito onde os velhos soldados e reformados foram esquecidos e entregues a Institutos Publicos, chefiados por umas loiraças civis e uns boys, onde recebem pensões miseraveis e onde agora terão de pagar mais conrtribuições, reformados abandonados à sua miséria enquanto os senhor se pavoneia como um vassalo com um sorriso estupido ao lado dos seus amigos do governo, e onde os militares são substituidos todos os dias por gente que de soldadagem nada percebe, um Exercito sem cozinhas , e sem manutenção militar, onde a pobre comida é entregue por empresas publicas com uma alimentação precaria, um Exercito que não gosta de si, sem treino eficaz, um Exercito que não é treinado para combater porque para isso é preciso dinheiro, um exercito onde agora poderá distribuir machadinhas para combater incendios, o senhor comanda um Exercito que não o respeita, e que surdamente o atura.
senti-me ultrajado com a sua ligeireza a abordar responsabilidades que eram suas e de mais ninguem, o senhor é um representante do poder politico junto dos militares e não um defensor dos militares juntos dos politicos este roubo de armas revela o seu caracter, mascarar-se atras de soldados e atira-los para a fogueira.
A demissão dos Generais, Gerónimo, Calçada e Menezes, veio abrir-lhe as portas do vazio, qual salto está a dar na historia do Exercito, qual salto de subserviência e de servilismo a um poder que pouco se importa com gente como nós e só nos tem ultrajado com politiquices e onde somos sim soldadinhos de chumbo para marchetas e engalanar a vida de alguns politicos ociosos e pouco nobres.
Os politicos têm feito bem o seu trabalho tanto mais que o seu é mesmo esse, o de obedecer e de manter o seu lugar , sabendo que um dia que saia , não terá Soldados que o cumprimentem porque fica para a historia como um péssimo Chefe de Estado Maior.
Tem alguns militares que de militares pouco conheci que hoje e ontem tem preferencias politicas e até o defendem porque têm uma carreira de comentadores a defender, mas esses eu e outros tambem os conhecemos e todos remam na mesma direcção a do protagonismo facil e de uma imensa vaidade escondida em forma de falsa modestia.

Tem um excelente exemplo a quem seguir o General CEMGFA, o icone da vergonha das Forças Armadas.
Sabe Srº CEME, quando sair, morre, morre porque ninguem o convidará para nada, a não ser os sabujos que o alimetam, leia este texto e lembre-se dele.
Se eu fosse Coronel e me tivesse exonerado como exonerou outros Coroneis, teria um processo em cima de cidadão para cidadão, sabe bem que caluniar e difamar alguem em publico como fez para safar o pelo e sem culpa formada é um crime punido com prisão.
Ontem disse que faria exactamente o mesmo, faria porque não houve um tipo com tomates que o tivesse apertado e encostado à parede, tenho pena e não ter estado lá, mesmo pena e quem me conhece saber que não falo muito, porque noutras condições, nao estaria a fazer a figura triste que fez ontem na televisão, a envergonhar a todos nós. O seu comando prima pela Bandalhice na instituição, pela impunidade e pelo medo, sabujice e falta de etica e de rigor. Afinal quem será punido pelo roubo das armas, a impunidade já chegou as Forças Armadas.
Os tempos estão confusos, e na minha opinião com o seu exemplo e do CEMGFA, as Forças Armadas estão sem norte, espero que alguem acorde e devolva à nossa instituição o que nos tem sido tirado ano, após ano, em silêncio, cumprindo com amor ao pais, mas o pais tem de nos saber respeitar. Para quem diz que o Exército é o espelho do Regime é assumir uma crença comodista de acreditar nisso e criticar é nada a fazer. É minha convicção que o regime tem de ser o espelho do exército e encontrar a nobreza, o sentido de serviço público e de servir a pátria e as pessoas, como o exército as serve, todas as crenças têm a sua inversão que também é verdade.
O seu Comando não é pelo exemplo, é um comando despotico, pelo medo e por isso mesmo tem tido atitudes unilaterais de calar quem fala. Sabe quando proibiu o lançamento do BEIJO DA QUISSONDE, livro de homenagem a viuvas e orfãos de Guerra, de Homenagem a soldados de Portugal que o senhor nunca será, fez um grande serviço à Nação, a de se desvincular da essência do Comando, e da arte da liderança, que é ter capacidade de encaixe em relação a critica dos inferiores hierarquicos, respeitá-la ouvi-la e aprender com ela, sempre fiz isto na minha vida militar, porque são os nossos soldados e capitães e Sargentos que nos formam e nos ensinam a comandar de forma humana e sublime,
Não sou militar na reforma, muito activo, nem fui militar no activo muito passivo, sou Soldado e serei e o meu dever e a minha honra obrigam-me a dizer o que penso, e não será a opinião de todos, mas cada um sabe de si e da sua consciência. Quanto a si e ao CEMGFA, são uma mancha, quais mastins que por um dia de protagonismo terão uma eternidade de vergonha.... Sr CEME, volte a fazer o que fez, exonere, agora tem a garantia que chefia um Exercito eunuco e capado, onde ainda há gente nobre que tem de levar com o seu despotismo. Para terminar, o Capitão Luís Tinoco de Faria, morto em combate dia 28 de Abril de 1966, em guilege na Guiné, deu me um recado para si, que era o que lhe diria hoje se fosse vivo.... Vá à Mer..... Com as suas exoneracões.
Gosto
Comentar

[O POLVO ENCARNADO]

 PDF






domingo, 12 de novembro de 2017

A luta contra o Fogo

Há 28 anos um povo lutou contra os eucaliptos. E a terra nunca mais ardeu
Em 1989 houve uma guerra no vale do Lila, em Valpaços. Centenas de pessoas juntaram-se para destruir 200 hectares de eucaliptal, com medo que as árvores lhes roubassem a água e trouxessem o fogo. A polícia carregou sobre a população, mas o povo não se demoveu.

·         
A 31 de março de 1989 o povo de Valpaços invadiu uma quinta no vale do Lila para arrancar os 200 hectares de eucalipto que a Soporcel tinha plantado na região.
[Arquivo JN]
A polícia respondeu com uma carga à população, mas revelou-se incapaz de travar os avanços de 800 populares sobre a propriedade.
[Arquivo JN]

·         
Quando a cavalaria da GNR se viu cercada, entrou em campo o corpo de intervenção. Só aí os ânimos acalmaram.
[Arquivo JN]

·
         
No vale do Lila não há mais de sete ou oito aldeias e todas vivem do olival. Os eucaliptos secar-lhes-iam os terrenos e trar-lhes-iam incêndios.


·         
António Morais foi o cabecilha dos protestos. Percorrendo as aldeias depois da missa foi convencendo o povo que o lucro fácil traria prejuízos a médio prazo.


·         
Hoje, o povo sente que a destruição dos eucaliptos foi a sua salvação. E dizem que, se tivessem deixado aquela floresta avançar, não teriam escapado aos incêndios de 2017.

·         
Hoje os terrenos da quinta do Ermeiro são diversos. Há oliveiras e nogueiras, amêndoa e pinho. Em três décadas, nenhum incêndio.

·         
João Sousa esteve na organização dos protestos à socapa, era presidente da freguesia da Veiga do Lila. «Dizem que somos um povo sem educação mas afinal nós é que estávamos certos.»


·         
Os eucaliptos tinham sido plantados há pouco tempo, não foi preciso usar sacholas nem enxadas. Foram arrancados pelas mãos de homens e mulheres, canalha e velharia.


·         
A oliveira e o azeite sempre foram a riqueza da região. É sobretudo disso que ainda vivem hoje as populações de Valpaços.


·         
Ester Oliveira viu o marido ser detido durante os confrontos por posse de arma ilegal. «Foi o povo que o salvou por dizer que ele não arredava pé enquanto ele não fosse libertado.»


·         
A população tinha recuado depois da chegada do corpo de intervenção, mas voltara à carga para defender José Oliveira. A guerra terminou com a sua libertação.


·         
Alguns dos organizadores foram levados a tribunal por invasão de propriedade privada e condenados a pena suspensa. E todos dizem que voltariam a repetir o crime.


·         
Natália Esteves organizou assembleias, bateu à porta dos vizinhos, conseguiu convencer dezenas de agricultores que o eucalipto traria seca e fogo.


·         
Dos 200 hectares de eucalipto não sobram hoje mais do que uma dúzia de árvores junto ao casario do Ermeiro. Se alguém os quiser plantar, o povo arranca-os.


·         
Maria João Sousa tinha 15 anos quando viu a revolução chegar à sua aldeia. Diz que foi o 25 de Abril da sua gente.


·         
Em quase três décadas o Lila escapou ileso aos incêndios. Hoje, todos dizem que é por se terem livrado dos eucaliptos. E lamentam que o resto do país não lhes tenha resistido.

«Foi o nosso 25 de Abril», diz Maria João Sousa, que tinha 15 anos quando a revolução chegou à sua terra. No dia 31 de março de 1989, a rebate do sino, 800 pessoas juntaram-se na Veiga do Lila, uma pequena aldeia de Valpaços, e protagonizaram um dos maiores protestos ambientais que alguma vez aconteceram em Portugal.
A acção fora concertada entre sete ou oito povoações de um escondidíssimo vale transmontano, e depois juntaram-se ecologistas do Porto e de Bragança à causa. Numa tarde de domingo, largaram todos para destruir os 200 hectares de eucalipto que uma empresa de celulose andava a plantar na quinta do Ermeiro, a maior propriedade agrícola da região.
À sua espera tinham a GNR, duas centenas de agentes. Formavam uma primeira barreira com o objetivo de impedir o povo de arrancar os pés das árvores, mas eram poucos para uma revolta tão grande.
A polícia respondeu com uma carga à população, mas revelou-se incapaz de travar os avanços de 800 populares sobre a propriedade. [Arquivo JN]
«NAQUELE DIA NINGUÉM SENTIA MEDO. ELES ATIRAVAM TIROS PARA O AR E PARECIA QUE TÍNHAMOS UMA FORÇA QUALQUER A FAZER-NOS AVANÇAR», LEMBRA MARIA JOÃO SOUSA.
Maria João, que nesse dia usava uma camisola vermelha impressa com a figura do Rato Mickey, nem deu pelo polícia que lhe agarrou no braço. «Ide para casa ver os desenhos animados», atirou-lhe, mas a rapariga restaurou a liberdade de movimentos com um safanão: «Estava tão convicta que não sentia medo nenhum. Naquele dia ninguém sentia medo nenhum. Eles atiravam tiros para o ar e parecia que tínhamos uma força qualquer a fazer-nos avançar.»
A tensão subiria de tom ao longo da tarde. «Houve ali uma altura em que pensei que as coisas podiam correr para o torto», diz agora António Morais, o cabecilha dos protestos. Havia agentes de Trás-os-montes inteiros, da Régua e de Chaves, de Vila Real e Mirandela.
Mas também lá estava a imprensa, e ainda hoje o homem acredita que foi por isso que a violência não escalou mais. Algumas cargas, pedrada de um lado, cacetadas do outro, mas nada que conseguisse calar um coro de homens e mulheres, canalha e velharia: «Oliveiras sim, eucaliptos não».
«Não queríamos arder aqui todos»
A guerra tinha começado a ser preparada um par de meses antes, quando António Morais, proprietário de vários hectares de olival no Lila, percebeu que uma empresa subsidiária da Soporcel se preparava para substituir 200 hectares de oliveiras por eucaliptal para a indústria do papel. «Tinham recebido fundos perdidos do Estado para reflorestar o vale sem sequer consultarem a população», revolta-se ainda, 28 anos depois.
«Nessa altura o ministério da agricultura defendia com unhas e dentes a plantação de eucalipto.» Álvaro Barreto, titular da pasta, fora anos antes presidente do conselho de administração da Soporcel e tornaria ao cargo em 1990, pouco depois das gentes de Valpaços lhe fazerem frente.
António Morais foi o cabecilha dos protestos. Percorrendo as aldeias depois da missa foi convencendo o povo que o lucro fácil trairia prejuízos a médio prazo.
«A tese dominante dos governos de Cavaco Silva era que urgia substituir o minifúndio e a agricultura de subsistência por monoculturas mais rentáveis, era preciso rentabilizar a floresta em grande escala», diz António Morais. O eucalipto adivinhava-se uma solução fácil.
Crescia rápido e tinha boas margens de lucro. Portugal, aliás, ganharia em poucos anos um papel de destaque na indústria de celulose e os pequenos proprietários poderiam resolver muitos problemas de insolvência abastecendo as grandes empresas com uma floresta renovada. A teoria acabaria por vingar em todo o país, sobretudo no interior centro e norte. Mas não em Valpaços.
«NUMA REGIÃO ONDE A ÁGUA É TUDO MENOS ABUNDANTE, TERÍAMOS [POR CAUSA DO EUCALIPTO] PROBLEMAS DE VIABILIDADE DAS OUTRAS CULTURAS», DIZ ANTÓNIO MORAIS.
«Comecei a ler coisas e percebi que o eucalipto nos traria grandes problemas», continua António Morais. «Por um lado, numa região onde a água é tudo menos abundante, teríamos grandes problemas de viabilidade das outras culturas. Nomeadamente o olival, que sempre foi a riqueza deste povo. E depois havia os incêndios, que eram o diabo. São árvores altamente combustíveis e que atingem uma altura muito grande.»
Na terra quente transmontana o ano são oito meses de inverno e quatro de inferno. O fogo, tinha ele a certeza, chegaria com aquele arvoredo.
Uns meses antes da guerra, começou a conversar sobre o seu medo com algumas das mais relevantes personalidades do vale. Grandes proprietários, políticos da terra, as famílias mais reconhecidas. «Lentamente começou a formar-se um consenso de que o lucro fácil do eucalipto seria a médio prazo a nossa desgraça. Não queríamos deixar secar a nossa terra. E não queríamos arder aqui todos. Tínhamos de destruir aquele eucaliptal, custasse o que custasse.»
Anatomia da conspiração
O núcleo duro estava formado, era constituído por dezena e meia de agricultores capazes de mobilizar o resto do povo. «Aos domingos, íamos às aldeias e no fim da missa explicava às pessoas o que podia acontecer à nossa terra», lembra Natália Esteves, descendente de uma família de grandes produtores de azeite feita de repente líder de protesto ecológico. «E também íamos de casa em casa, esclarecer quem não tinha estado nas assembleias.»
Ao início houve renitência, a madeira valeria sempre mais do que a azeitona, e a castanha ainda não rendia o que rende hoje. «Mas tentámos sempre centrar a conversa no que aconteceria daí a uns anos, dizer que os eucaliptos secariam os solos e o povo ficaria refém de uma única cultura, que se alguma coisa corresse mal não teriam mais nada.»
João Sousa esteve na organização dos protestos à socapa, era presidente da freguesia da Veiga do Lila. «Dizem que somos um povo sem educação mas afinal nós é que estávamos certos.»
O que mais assustava aquela gente, no entanto, era o fogo. «Onde há eucalipto, tudo arde. E então o povo já não chamava a árvore pelo nome, mas por fósforos.» A primeira batalha estava ganha: tinham o apoio da população.
João Sousa era nessa altura presidente da junta da Veiga do Lila. «Oficialmente não podia dizer que era contra os eucaliptos, nem ir contra a polícia. Mas, quando falava com as pessoas, dizia-lhes o que haviam de fazer», conta agora com uma gargalhada e sem ponta de medo.
«VÊ, NEM UM EUCALIPTO PLANTADO. E O NOSSO VALE HÁ MAIS DE 30 ANOS QUE NÃO ARDE», DIZ JOÃO DE SOUSA.
«Então se tínhamos o melhor azeite do país ia dar cabo dele para enriquecer uns ricalhaços de fora?» Tem 86 anos e uma destreza de 30, hoje estuga o passo para mostrar a zona que podia ter sido caixa de fósforos. «Vê, nem um eucalipto plantado. E o nosso vale há mais de 30 anos que não arde. Se o povo não se tem unido hoje estávamos a viver a mesma desgraça que vimos por esse país fora.»
Essa é aliás a conversa mais recorrente por estes dias no vale do Lila. A tragédia florestal portuguesa dá a este povo a impressão que eles sim, tinham razão há muitos anos, quando o governo e as autoridades lhes diziam o contrário.
«Podem achar que somos gente do campo, sem educação nem conhecimento, mas nós cá soubemos defender a nossa terra», diz o velhote. «Temos chorado muito por esta gente que perdeu vidas e animais e casas. E há uma coisa que o meu povo sabe: se temos deixado ficar os eucaliptos, também hoje choraríamos pelos nossos.»
A guerra
Há uns dias que os combates tinham começado. Ataques furtivos do povo, desorganizadamente, para arrancar pés de eucalipto nos limites do Ermeiro. Duas semanas antes da guerra, no Domingo de Ramos, as coisas aqueceram.
«Juntámos duas centenas de pessoas aqui destas aldeias e os donos da empresa chamaram a GNR», lembra António Morais. «Quando eles chegaram já tínhamos dado cabo de uns bons 50 hectares de eucaliptal.» Nesse dia não houve confrontos, porque o povo fugiu. Mas anunciaram a alto e bom som que voltariam depois da Páscoa.
Esse ataque tinha feito notícia no Jornal de Notícias e trazido uma mão-cheia de jornalistas à terra, nomeadamente Miguel Sousa Tavares, da RTP. «Percebi que as coisas estavam a tornar-se muito grandes e foi então que contactei a Quercus. Precisávamos de ajuda.»
A 31 de março de 1989 o povo de Valpaços invadiu uma quinta no vale do Lila para arrancar os 200 hectares de eucalipto que a Soporcel tinha plantado na região. [Arquivo JN]
Do outro lado da linha atendeu Serafim Riem, que dirigia o núcleo do Porto da organização ambientalista. O ecologista partiu imediatamente para o terreno. Nesses dias ouviriam do parlamento em Lisboa várias palavras de solidariedade. Sobretudo do PCP, d’Os Verdes e de um jovem deputado socialista chamado José Sócrates.
Agora não valia a pena esconder mais nada. A 31 de março de 1989, domingo depois da Páscoa, o povo juntar-se-ia todo na Veiga do Lila para dar cabo do eucaliptal que restasse. A aldeia enchera-se de jornalistas, havia até um helicóptero a cobrir os acontecimentos do ar.
A direcção nacional da Quercus demarcar-se-ia da organização dos protestos através de um comunicado, mas os núcleos do Porto e Bragança encheriam cada um o seu autocarro de ambientalistas carregados de cartazes. Às duas da tarde o sino começou a tocar a rebate. Oito centenas de vozes entoavam «oliveiras sim, eucaliptos não» e largaram por um caminho de terra batida para a quinta do Ermeiro.
NUMA HORA, FORAM ARRANCADOS 180 HECTARES DE PEQUENAS ÁRVORES. «ALGUNS GOZAVAM COM OS AGENTES NA CARA E LEVARAM UMAS BASTONADAS», RECORDA NATÁLIA ESTEVES.
Não era preciso usar enxadas nem sacholas, os eucaliptos tinham sido plantados há pouco tempo e arrancavam-se com as mãos. A polícia tentava fazer uma linha de defesa, mas duas centenas de agentes não chegavam para aquela gente toda.
Numa hora, foram arrancados 180 hectares de pequenas árvores. «Alguns gozavam com os agentes na cara e levaram umas bastonadas das boas», recorda Natália Esteves. Os que eram de perto diziam-lhes assim: «Tendes razão, por isso vamos fingir que não vemos.» Viravam as costas e o povo ia subindo o terreno.
Num instante, o casario da quinta tornava-se no último reduto da investida. Uma dezena de guardas saíram a cavalo, era demonstração de força mas não surtiu resultado. A Soporcel tinha construído socalcos para plantar os eucaliptos e, agora, os animais não conseguiam descê-los.
«O povo ia atirando pedras aos guardas, houve um que acertou no cavalo e mandou-o abaixo», diz João Morais. Foi nesse momento que entrou em campo o corpo de intervenção, disposto a levar toda a gente pela frente. «Aí as coisas podiam ter descambado definitivamente.»
Todos por um
A guarda especializada avançava agora colina abaixo com escudos e capacetes. José Oliveira, um agricultor da pequena aldeia de Émeres, tentou escapar pela lateral, mas foi logo caçado pela guarda. No bolso trazia um revólver e foi isso que o tramou. «Levaram-no logo detido para dentro do jipe por posse de arma ilegal», conta agora a sua viúva, Ester.
Aquela detenção marcaria o início do fim da guerra. «As pessoas tinham recuado por causa do corpo de intervenção, mas quando se aperceberam que um dos nossos estava preso começaram a gritar que não arredariam pé enquanto ele não fosse solto», diz João Morais. Ester anui, «foi o vale inteiro que salvou o meu homem.» Agora já não havia pedras, havia gritos. Que libertassem o tio Zé e rápido.
Ester Oliveira viu o marido, José Oliveira, ser detido durante os confrontos por posse de arma ilegal. «Foi o povo que o salvou por dizer que não arredava pé enquanto ele não fosse libertado.»
Serafim Reim, o homem da Quercus, é que foi lá negociar a libertação com os guardas. Sobravam menos de 20 hectares de eucalipto, o povo deixá-los-ia em paz se soltassem o velhote. Uma hora depois, houve consenso. Identificaram José Oliveira, caçaram-lhe a arma e mais tarde levaram-no a tribunal, mas naquele dia saiu pelo seu pé para os braços da mulher, e daí para casa.
António Morais, Natália Esteves, João Sousa e mais uma dezena de organizadores do protesto também seriam chamados à barra da justiça, um ano depois enfrentaram acusação de invasão de propriedade privada e foram condenados com pena suspensa.
«Ainda vieram uns engenheiros da Soporcel dizer que retirariam a queixa se nos comprometêssemos a não destruir uma nova plantação de eucalipto. Disse-lhes que nem pensar, aqui nunca teríamos árvores dessas no nosso vale.»
Nas noites seguintes arrancou-se à socapa quase tudo o que faltava, ficaram apenas meia dúzia de hectares a rodear o casario da quinta, mais passível de vigia. A Soporcel acabaria por desistir e vender a propriedade e a família que a comprou, quando ousou confessar a Natália Esteves que pensavam plantar eucaliptos, foram logo avisados: «Se os botais nós os arrancamos.»
«A ÚNICA MANEIRA DE TRAVAR OS INCÊNDIOS EM PORTUGAL É REDUZIR O EUCALIPTAL E SUBSTITUÍ-LO PELA FLORESTA AUTÓCTONE», DIZ O AMBIENTALISTA SERAFIM RIEM.
Hoje, o Ermeiro é terra de nogueiras e amendoeiras, oliveiras e pinho. Nunca ardeu. Serafim Riem, o ambientalista da Quercus, diz que até hoje a guerra do povo de Valpaços é um marco, a maior ligação jamais vista no país entre o mundo rural e o activismo ecológico.
«A única maneira de travar os incêndios em Portugal é reduzir drasticamente o eucaliptal e substituí-lo pela floresta autóctone, que não só tem melhor imunidade ao fogo como gera uma riqueza mais diversificada para as populações.»
Naquele 31 de março de 1989, o povo uniu-se e, diz agora, salvou-se. «Nós é que tínhamos razão», repetem uma e outra vez, repetem todos. Às seis da tarde, depois de José Oliveira ser libertado, um vale inteiro voltou pelo mesmo caminho e juntou-se no principal largo de Veiga do Lila. Mataram-se dois borregos e um leitão, abriram-se presuntos e deitaram-se alheiras à brasa, houve até quem trouxesse uma pipa de vinho. A festa durou noite dentro e foi maior do que qualquer romaria de Santa Bárbara.

À volta da fogueira acabariam por juntar-se também os guardas que horas antes defendiam o Ermeiro. E ali ficaram a comer e beber, vencedores e vencidos, que em Trás-os-Montes nunca se nega hospitalidade. Maria João Sousa nunca tinha visto uma coisa daquelas, nem nunca voltaria a vê-la na sua terra. Foi o 25 de Abril da sua gente. «Há lá coisa mais bonita do que uma revolução.»