INVESTIGAÇÃO EM CURSO
Há dias, porém, toda
esta maquilhagem começou a desbotar.
Segundo uma
investigação da TVI, a presidente Paula Brito e
Costa, de 50 anos, terá usado a instituição para seu
benefício e de familiares, usufruindo de quase seis mil euros de rendimentos
mensais e de um BMW cujo pagamento é suportado pela Raríssimas. Apesar
dos apoios do Estado – só o Ministério do Trabalho, da Solidariedade e
Segurança Social deu 875 mil euros este ano - a associação está mergulhada em
problemas financeiros há vários anos e é alvo de ações que reclamam mais de 152
mil euros no âmbito judicial. Mesmo assim, Paula Brito e Costa, que
está a ser investigada pela Polícia Judiciária, é suspeita de gerir de forma
despesista a instituição e de usar dinheiro da mesma para compras em supermercados,
vestuário e outros
gastos luxuosos sem correspondência com a atividade da associação.
Em causa estarão os crimes
de burla, falsificação de documentos, peculato e administração danosa.
Na reportagem, foram ainda revelados dois casos polémicos envolvendo a
Raríssimas:
um contrato
com Manuel Delgado, atual secretário de Estado da Saúde, que, enquanto
consultor, terá recebido cerca de 3 mil euros mensais da instituição entre 2013
e 2014; e o alegado pagamento, em 2016, de uma viagem a SóniaFertuzinhos,
deputada do PS e casada com o ministro Vieira da Silva, ao estrangeiro, embora aquela parlamentar
socialista já tenha garantido que a organização da conferência sobre doenças
raras na qual participou devolveu o valor à Raríssimas. O Presidente da República,
Marcelo Rebelo de Sousa, diz-se satisfeito com o facto de o Governo ter
aberto "um inquérito para apurar até ao fim aquilo que aconteceu",
mas deixou um recado: "Que não seja preciso denúncias para o Estado saber o que se passa
nestas instituições". A associação fala, entretanto, em
"acusações insidiosas" e "informações manipuladas",
prometendo reagir em breve de forma mais fundamentada.
DO GINÁSIO AO SOCIAL
Residente em Caneças,
medalha de ouro da Câmara Municipal de Odivelas e frequentemente citada nos
eventos sociais noticiados pelas revistas “cor-de-rosa”, Paula Brito e Costa é
casada e tem um filho (o outro, Marco, faleceu com uma doença rara e, segundo o
seu testemunho, foi a inspiração para criar a Raríssimas). Natural de Loures,
filha de um casal alentejano (ele fuzileiro, ela doméstica), Paula deu aulas de
ginástica de alta competição e foi manequim profissional durante nove anos.
“Nunca ganhei tanto dinheiro na vida”, revelou numa entrevista ao jornal i, em
2011, estávamos ainda longe do sucesso da Raríssimas. Pelo meio, ainda
frequentou a licenciatura de Filosofia, mas nunca chegou a terminar o
curso. Casou com o seu mestre de artes marciais e costuma dizer que só
Deus e o marido a conhecem bem. Enquanto presidente da Federação das
Doenças Raras de Portugal (Fedra) – suspendeu o mandato em março deste ano –
Paula Brito e Costa envolveu-se na edição do livro Doenças Raras de A a Z, cujos
volumes foram promovidos pelo Ministério da Saúde. De resto, o trabalho
desenvolvido pela Raríssimas valeu-lhe, no ano passado, o Prémio Manuel António
da Mota, no valor de 50 mil euros, tendo a presidente da associação anunciado,
na altura, estar apostada na internacionalização.
Habitualmente critica
dos poderes públicos, Paula Brito e Costa considera que a maioria dos políticos
“olha para os representantes das associações como uma ameaça” e chegou a
vangloriar-se, na já citada entrevista ao i, de ter enviado um e-mail a um
ministro da Saúde a explicar qual era a definição de democracia no dicionário,
mas recusou dizer o nome do destinatário. “O que salva Portugal é ter gente
muito boa a fazer muita coisa boa pelo País", assinalou. "Tenho pena
que os políticos, na sua grande maioria, não sejam capazes de ver isso e
minimizem os problemas”.
Não obstante aplaudir
o “princípio da transparência” das instituições, como fez no ano passado em
declarações ao DN, Paula Brito e Costa parece agora ter sido vítima das suas
próprias palavras. Haverá muito para desvendar sobre a gestão financeira da
associação e já corre uma petição pública com centenas de assinaturas a
reclamar a demissão da presidente. Se em criança, Paula tinha “de comer com
ovos debaixo dos braços” para aprender a comportar-se à mesa, agora vai
precisar de mais verniz e alguma ginástica para explicar como geriu a
Associação Nacional de Doenças Mentais e Raras. Pelos vistos, as boas maneiras
e as amizades influentes já não chegam.
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